sábado, 22 de noviembre de 2025

PATRIA, un poema de ERNESTO GUERA DA CAL

Se a súa primeira publicación literaria fora o poema “Mariñeiro fusilado” (na revista Nova Galiza, en 1937), Guerra da Cal publicou os poemarios: Lua de além-mar (1959), Poemas (1961), Rio de sonho e tempo (1962) e Motivos do eu (1966).




PÁTRIA*

                                           

«Porque volvió, sin regresar, Ulises»

                              MIGUEL ANGEL ASTURIAS

A Galiza

é para mim

um mito pessoal

maternal e nutrício

com longa teimosia elaborado

de louco amor filial

de degredado

(E de facto é também

-porquê não confes-sá-loum execrável vício

sublimado)

A Galiza

foi sempre para mim

um refúgio mental

um jardim de lembranças

sossegado

um ninho de frouxel acolhedor

para onde fugir

do duro batalhar e do estridor

da Vida

e do acre ressaibo do Pecado

Subterfúgio subtil

e purificador

de interior evasão

para o descanso da alma

na calma

pastoril

da perfeição de Arcádia

da Terra Prometida

da imaginação


A Galiza

é o meu amor constante

tranquila e fiel esposa

e impetuosa amante

sempre

como Penélope a tecer na espera

ansiosa e plácida

paciente e palpitante

do retorno final

do seu errante e navegante Ulisses

-outra quimera!

Amo-a

como o náufrago desesperado

ama a costa longínqua e arelada

que nunca há de avistar

Amo-a

com saudade antevista de emigrado

que à partida se sabe já

a ser ausente morrinhento

de nunca mais voltar

fadado

Porque ninguém jamais regressa do desterro

à mesma terra que deixou

(O Espaço sempre acaba comido pelo Tempo:

Os lugares

e as gentes que os habitam

mudam e morrem sempre

e nós também morremos

e mudamos

Posso eu acaso me reconhecer

naquele rapaz loiro

que chorando partiu

um dia crepuscular e montanhoso

de Quiroga

no Sil

há tantos anos

e tantos desenganos?)

Amo-a

Amei-a sempre

porque nunca deixei

de estar ligado a Ela

pelo umbigo

Porque Ela foi meu berço

e onde quer que eu morrer

Ela há-de ser

o meu íntimo

Amo-te

enfim

Galiza

e último jazigo

coitada, triste e bela Pátria minha

como Tu es

como o Senhor

num mal dia te fez

órfã de história e alienada de alma

vespertina, submissa e maliciosa

rústica e probrezinha

Amo-te

sobretudo

como eu te quereria

como eu em mIm te crio

dia após dia

como um encantamento da minha infância

e da minha fantasia

Amo-te

como eu

tresnoitado poeta evangelista

te invento e mitifico

E, como com Jesus Cristo fez Mateus,

visto com ilusórios véus

a tua miseranda e cinzenta Paixão

e intento

com interna e intensa

distante devoção

pôr-te um nimbo de Glória imaginária

num apócrifo Novo Testamento E. GUERRA DA CAL

ESTORIL,

/984 


        ERNESTO GUERRA DA CAL e LORCA

Se a súa primeira publicación literaria fora o poema “Mariñeiro fusilado” (na revista Nova Galiza, en 1937), Guerra da Cal publicou os poemarios: Lua de além-mar (1959), Poemas (1961), Rio de sonho e tempo (1962) e Motivos do eu (1966).

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