Poemas de Alberto Pimenta
Uma série de poemas de Obra Quase Incompleta, seleccionados porque sim, e aqui em formato de imagem, para ser mais fácil representá-los visualmente, como foram criados, e outros em letras, onde o visual não é tão importante:
porco trágico I
conheço um poeta
conheço um poeta
que diz que não sabe se a fome dos outros
é fome de comer
ou se é só fome de sobremesa alheia.
a mim o que me espanta
não é a sua ignorância:
pois estou habituado a que os poetas saibam muitode si
e pouco ou nada dos outros.
o que me espanta
é a distinção que ele faz:
como se a fome da sobremesa alheia
não fosse
fome de comer
também.
***
Civilidade
Civilidade
não tussa madame
reprima a tosse
não espirre madame
reprima o espirro
não soluce madame
reprima o soluço
não cante madame
reprima o canto
não arrote madame
reprima o arroto
não cague madame
reprima a merda
e quando estourar
que seja devagarinho
e sem incomodar, ok madame?
ok, monsieur.
Alberto Pimenta, Obra Quase Incompleta, Fenda, 1990, p. 69, 44, 113, 175, 232